Para a maior parte das pessoas que moram em Galegos Santa Maria, as estremas com São Martinho confundem-se com o caminho Penelas/Souto de Oleiros até ao sopé do monte do Facho.
Não será de estranhar este facto, aliás fomos desde sempre levados a reconhecer este troço viário como o limite geográfico natural e indubitável da divisão das duas freguesias, pelo menos desde que a expansão habitacional começou a estender-se para os terrenos adjacentes ao mesmo nos finais do século XIX inícios do século XX, porque antes disso os limites estariam bem definidos através de marcos e marcas conhecidas e reconhecidas por todos - muito iguais ou parecidos com as imagens abaixo, em particular a cruz.
Marca no penedo acima da bouça de "chães"
Marco junto da casa do sr. Cândido Durães
Como já referi há tempos na mensagem relacionada com o "penedo branco", para mim os limites passariam, de forma mais ou menos linear, desde o marco da bouça de "chães" ou "chãos", descia o monte do Facho, passava pelo antigo aviário dos Ermidas, seguia em direcção à extremidade nascente do prédio em Souto de Oleiros, pela casa da fidalga, terminando na marcação que existia no "eirado do Francisco Lopes da Telheira", terreno em frente da casa do "armindo alfaiate", entretanto desaparecida após o inicio das obras para edificação da moradia e armazém aí instalados.
O caminho, tal como o conhecemos, estou em crer que não teve sempre a configuração actual. Basta reparar, por exemplo, na "ilha" que ficou entre caminhos em frente ao café saudite... o mesmo se passou em Penelas, no local onde está edificada a casa que foi do sr. João Esteves (carriço), o terreno era dividido ao meio por um caminho, tendo este acordado a cedência de terreno entre a sua casa e a oliveira, recebendo, como contrapartida, o caminho.
Para além de uma melhor organização da sua propriedade, passou a ser considerado de Galegos Santa Maria, uma vez que por essa altura o padre Filipe Montenegro "quis levar para lá alguns fregueses de Galegos (alterava-se a extrema). Deve ser muito antiga. Deverá mudar-se? Mas o freguês de lá paga o dobro do de cá! - in Galegos (Santa Maria), Barcelos do Dr. Francisco Almeida Alves, 1976.
À frente dos destinos das duas paróquias, por força do "castigo" aplicado pela Diocese aos de Galegos por ofensas corporais ao padre Vilela, logo o padre Montenegro tratou de delinear uma estratégia para aumentar a sua área de influência, instigando a que as casas situadas a nascente do caminho de Penelas, que pertenciam a Galegos Santa Maria, passassem para São Martinho, ganhando desta forma mais alguns fregueses para lhe aumentar os rendimentos paroquiais. Contava para isso com o apoio dos de São Martinho e a ingenuidade, passividade e cumplicidade dos de Santa Maria, que não ousaram ou não quiseram "comprar" mais uma guerra com outro padre, a figura principal, proeminente e mais conceituada na vida rural das paróquias, as suas palavras eram respeitadas e tinham força de lei.
Para mim, é a partir daqui que se começa a "vulgarizar" a ideia de que o caminho de Penelas marcava o limite entre as duas freguesias.
Mas o caminho de Penelas só vai até à esquina dos terrenos da "Fidalga", não vai até ao cruzamento da casa do sr. Júlio Alonso, tal como os de São Martinho oficializaram na sua toponímia!
Curioso, ou não, é o facto de não existir qualquer referência aos limites entre as duas freguesias nos documentos guardados na Torre do Tombo ou no Arquivo Distrital de Braga. Por diversas vezes tentei obter informação sobre este assunto junto destas instituições, mas a resposta é sempre a mesma, não temos qualquer informação sobre esse assunto.
É aqui que entra um livro, todo ele transcrito à mão pelo sr. Ernesto da Silva Campos, rico proprietário e figura importante de São Martinho, onde tinha apontados todos os registos prediais da freguesia e onde, também, consta uma transcrição de um documento de 1870, "fielmente reproduzido", descrevendo a localização dos marcos e marcas que serviam de referência para os limites territoriais de São Martinho, sem, contudo, mencionar nunca o local onde este documento se encontra ou a identificação da obra de que faz parte.
O documento aponta o itinerário marco-a-marco, marca-a-marca dos limites com as diversas freguesia com quem São Martinho faz fronteira (Areias S. Vicente, Lama, Oliveira e Manhente), mas quando chega às confrontações com Santa Maria, não apresenta nem um único marco ou marca entre o da bouça de "chães" ou "chãos" e o do eirado do Francisco Lopes da Telheira!
A descrição reza assim: "... caminhando mais para poente, na bouça de Chãos, perto do fim, está um marco com uma cruz virada ao sul; caminhando pelo poente direito à casa do “Coto” e dali pelo caminho direito ao eirado do “barqueiro”. Dali direito a um marco que está no eirado do Francisco Lopes da Telheira com uma cruz virada ao nascente...", o tal que desapareceu com as obras.
Segundo o que consegui apurar, a casa do "Coto" será a que pertenceu ao Padre Herculano e a do "barqueiro", uma pequena propriedade que fica entre a casa do "armindo alfaiate" e os terrenos do sr. Joaquim Araújo, que actualmente pertence à Emília Macedo (chiquinha).
Desta descrição salta imediatamente uma "certeza" para os de São Martinho quanto à fronteira, o caminho entre a casa do "Coto" e o eirado do "barqueiro", tomada como "verdadeira" e contra a qual a gente de Galegos Santa Maria pura e simplesmente se deixou levar.
Mas o mais grave nisto tudo é a forma como os nossos vizinhos se comportam relativamente a este tema das fronteiras, como se o marco que se encontra na casa do sr. Joaquim Araújo tivesse a ver alguma coisa com os limites das freguesias... Esse marco, como já aqui referi, delimitava o couto de São Martinho de Manhente, fazendo parte dele a totalidade das freguesias de Manhente e São Veríssimo, e parte das freguesias de Areias, São Martinho e uma reduzida área de Galegos Santa Maria, pelo que erradamente querem fazer deste o marco divisório das três freguesias: Galegos Santa Maria, Manhente e Galegos São Martinho.
(Continua...)
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