Eu digo NÃO!

Em defesa da língua portuguesa, o autor deste blogue não adopta o "acordo ortográfico" de 1990 por este ser inconsistente, incongruente e inconstitucional, para além de, comprovadamente, ser causa de crescente iliteracia em publicações oficiais e privadas, na imprensa e na população em geral.


24/11/2008

Estrema com Manhente em 1508.

Na Secção Registo Geral – livro número 391, folhas 187 do Tombo de Santa Maria de Galegos, guardado no Arquivo Distrital de Braga, encontramos a descrição dos limites entre Santa Maria de Galegos e S. Martinho de Manhente.
“Ano do nascimento de nosso Senhor Jesus Cristo de 1508, aos 29 dias do mês de Agosto entre a aldeia de São Veríssimo e a aldeia de Trás da Fonte em uns penedos e assim achamos que se chamam os penedos de penelas, sendo aí juntos o honrado Afonso Anes, Abade de Santa Maria de Galegos e da outra parte João de São Jorge, clérigo de missa, religioso do mosteiro de Vilar de Frades, e com eles Afonso Fernandes, João Vicente, João Vaz, Martim Luís e Gonçalo Roriz todos da freguesia de Manhente, e João de Arcozelo e João Martins da freguesia de Santa Maria de Galegos para haverem de demarcar as ditas freguesias de Santa Maria de Galegos e a de Manhente aos quais fregueses assim de uma freguesia como da outra foi dado juramento dos Santos Evangelhos por mim notário e em presença de João Rodrigues notário Apostólico morador em Barcelos escudeiro e das partes e feita pergunta que era o que sabiam acerca das demarcações entre as ditas Igrejas os quais todos juntos disseram que nestas mesmas pedras e penelas (outeiros, penha pequena) estavam muitos sinais, convêm a saber: um arco feito como a soía e outros sinais, muitos que pareciam picos (?) e cruzes e uns contra aguião (norte, a direcção norte) e outros contra suão (sul) e outros para abrego (sul, lado sul das marcações) onde chegavam três freguesias: Santa Maria de Galegos, a de S. Veríssimo e a de São Martinho de Manhente e que dali partia Santa Maria de Galegos e São Martinho de Manhente direito ao limite, pelo teso (cimo) do monte acima ao outeiro do Golai, e dali a um penedo que se chama penelas de Vilar do qual penedo acaba de partir Santa Maria de Galegos com São Martinho de Manhente, convêm a saber Santa Maria de Galegos fica contra Aguião (norte) e São Martinho de Manhente contra Abrego (sul) e no dito penedo (penelas de Vilar) começa a partir São Martinho de Manhente com São Martinho de Galegos, e para memória da verdade assinaram os sobreditos e eu João Rodrigues notário que por mandado dos sobreditos isto escrevi”.
Tal como naquele tempo, também agora as gentes de Galegos pouca importância dão a estas coisas. Vemos que para marcação das estremas, apareceram, para além do padre, mais 5 cidadãos de Manhente, enquanto de Galegos, para além do padre, somente 2 cidadãos estão presentes.
Hoje, quem conhece de verdade as estremas entre as freguesias? Onde param os marcos que assinalavam as fronteiras? Quem os retirou? Com que finalidade?
Quem sabe onde se situa o outeiro de Golai? Embora seja um topónimo com quinhentos anos, a verdade é que estes nomes não desaparecem com facilidade, perpetuavam-se no tempo. Só muito recentemente, por volta dos anos setenta/oitenta do século XX, com a explosão demográfica e a necessidade de arranjar espaços para edificar novas casas, muitas bouças e campos foram arrasados e adoptados novos nomes, sendo os antigos completamente esquecidos.
Mas voltemos aos marcos.
Quando me dizem que o marco situado na casa do Sr. Araújo, em Penelas, é marco divisório entre Galegos, S. Martinho e Manhente só posso discordar. O que ele marca é o limite do Couto de Manhente - que abrangia toda a área das freguesias de Manhente e Tamel S. Veríssimo com partes de Galegos Santa Maria, Galegos São Martinho e Areias S. Vicente.
Mais, se o marco fosse realmente divisório entre as três freguesias, ele constaria da descrição acima, o clérigo que ocupava as funções de pároco de Manhente e os fregueses que o acompanhavam tê-lo-iam dito! Mas, não. Não disseram nada, simplesmente apontaram o outeiro de Golai e a penela de Vilar.
Mesmo no caso da bouça do Sr. Ernesto Campos, onde agora está o "loteamento da tulipa", embora a bouça esteja registada como Manhente, isso não prova que seja toda dessa freguesia. O antigo proprietário dizia que a bouça era meeira, isto é, uma parte era de Manhente e a outra de Galegos Santa Maria. Foi com base nessa premissa que o Sr. José Pereira (melro) pediu ao Sr. Campos a cedência de terreno, no lado de Galegos, para aí construir a sua casa.
Um dia destes, falei com o Sr. Manuel Macedo do lugar de Aldeia, antigo membro de uma Junta de Freguesia juntamente com o Sr. "Ângela" e o Sr. Miguel Coelho, a propósito desta questão, tendo este lembrado que mais ou menos por onde chega o caminho que passa por trás da EB1,2 de Manhente contra a cerâmica A Tulipa, no muro que dividia as duas bouças, existia um marco e que daí partia em direcção a um outro situado nos inícios do terreno do Sr. Francisco Bogas, marcando assim o limite entre as duas freguesias. Também a Dª Rosa Silvestre (da Venda) se lembra de muitas vezes ficar sentada nesse marco no Bogas a guardar as coisas que o Pai trazia da feira de Barcelos, enquanto este levava outras para casa.
Fico profundamente triste e decepcionado com os nossos conterrâneos antepassados que não souberam guardar e preservar as limites, não só neste caso, lembro aqui também os problemas com Roriz e Galegos S. Martinho, para memória futura. E a desculpa de que pouca gente sabia ler e escrever não é razão suficiente para justificar esta total ausência de prova escrita dos limites de Galegos Santa Maria.
Espero que os nossos actuais responsáveis autárquicos actuem e acordem de uma vez por todas com as freguesias vizinhas as suas estremas, é indispensável e necessário para que haja paz entre vizinhos. Com fronteiras definidas e acertadas acabam-se todos os problemas que têm persistido até hoje.
Voltarei a este assunto dos marcos mais à frente, pois há pano para mangas...

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