Após o trágico e terrível terramoto de 1 de Novembro de 1755, que quase arrasou Lisboa e arredores, El-Rei D. José I e o Marquês de Pombal aproveitaram-se deste acontecimento para, como justificação para se inteirarem dos eventuais prejuízos ocorridos no resto do reino, recolher o máximo de informação sobre o que de mais importante haveria nas diversas paróquias, tendo para isso enviado aos párocos um extenso interrogatório ou inquérito, com cerca de 60 perguntas.
Deixo aqui a transcrição, respeitando a redacção original, dessa resposta por parte do Abade de Santa Maria de Galegos, Baltasar Ferreira da Silva, feita em 1758:
«Na Província de Entre Douro e Minho, Arcebispado de Braga, Comarca de Viana, Termo de Prado do qual é Senhor Donatário o Ilustríssimo e Excelentíssimo Marquêsde Minas, abrange dezoito freguesias e dois coutos, Azevedo e Manhente. No Vale de Tamel está situada a freguesia de Santa Maria de Galegos e no coração daquela a Igreja Matriz que é seu Orago a Senhora da Encarnação e tem três altares, um é o mor onde está colocado o Santíssimo e na parte da Epístola o senhor São José. Tem um colateral com o título de Senhora do Rosário da parte do Evangelho e outro da parte da Epístola com o título de S. Sebastião. Tem duas confrarias, uma do Santíssimo e outra da Senhora do Rosário. No centro da freguesia está a Igreja paroquial com includência de onze lugares com as titulações seguintes: S. João, da Igreja, Pena, Casa Nova, Souto de Oleiros, Portela, Casal do Monte, Outeiro, Fraião, Souto, Aldeia, Trás da Fonte, Revaldos, que bem contados fazem o número de treze. É padroeiro in solidum desta Abadia Pedro Lopes de Azevedo Pinheiro Pereira e Sá, e actual Senhor da Ilustre Casa de Azevedo e dos Coutos de Azevedo, Paradela e Rates. Tem de rendimento este benefício dois mil cruzados. Tem uma capela contígua à Igreja Matriz com o título de São João Baptista a qual é administrada pelos devotos da freguesia e ornada. Tem capela de Santo Amaro com pouca distância da Matriz que é do Abade desta freguesia, que no dia quinze de Janeiro com munta gente, com várias esmolas para o Santo e para a sistência de sua festa. Os frutos desta freguesia no que mais abunda é o milho alvo e o senteio, dos mais têm suficiência. Não tem juiz ordinário nem Câmera por ser esta freguesia sujeita às justiças da Vila de Prado como referi ao princípio. Serve-se do correio da Vila de Barcelos que dista meia légua, e da cidade de Braga duas e de Lisboa sessenta. Tem cinco fontes subterrâneas e algumas de água excelente. Atravessa esta freguesia da parte do Norte a dilatada serra de Oliveira, estende um braço té o reino de Galiza outro da parte do Sul de té São Tiago de Vila Seca aproximando-se junto ao mar do castelo de Esposende. Terá de comprimento té ao reino de Galiza doze léguas, de largura em partes meia légua, em partes mais de duas pouco mais ou menos. Para a parte de Esposende fará extensão de três léguas. Traz casa de perdizes, levres e coelhos, na parte que avezinha com esta freguesia. Tem sobreiros, castanheiros, carvalhos, nas fraldas pinheiros. Tem uma capela de S. Lourenço no ápice desta Serra que se festeja a dez de Agosto à qual concorre alguma gente de romaria. O temperamento é seco e quente. Pouca distância da capela mencionada estão pedaços de parede de altura de uma vara, em partes menos. O número de pessoas desta freguesia são duzentas e vinte e uma salvo erro. As paredes referidas são demonstrativo de que em outro tempo esteve na serra acima declarada Vila, ou castelo de Mouros porque consultadas as Crónicas do nosso Portugal se achava assaz povoado deles se o invicto Rei, e sempre Augusto D. Afonso Henriques, subsidiado da mão divina os não desbaratasse fazendo-lhes porfiada guerra.
Consertada comigo por ser vizinho imediato.
O Abade de S. Veríssimo, Domingos Gomes de Araújo.
O Abade de Santa Maria de Galegos e sua Anexa de Salvador de Quirás,
Baltasar Ferreira da Silva.»
Para os mais curiosos, deixo também imagens do texto original, pertença do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Lisboa:
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