Eu digo NÃO!

Em defesa da língua portuguesa, o autor deste blogue não adopta o "acordo ortográfico" de 1990 por este ser inconsistente, incongruente e inconstitucional, para além de, comprovadamente, ser causa de crescente iliteracia em publicações oficiais e privadas, na imprensa e na população em geral.


21/01/2009

Termas do Eirôgo

Para melhor conhecer as Termas do Eirôgo, transcrevo o seu historial:
Acciaiuoli (1944, IV: 95) na sua “História das Águas Minerais”, no capítulo dedicado a “Castanheirinhos, junto ao lugar de Mosqueiros e Quinta de Eirôgo”, refere a tradição de ter sido o cirurgião Manuel Lopes de Albuquerque o primeiro a dar um uso terapêutico a estas águas, numa data localizada entre 1820 e 1823. Depois desta data construiu-se o balneário de Mosqueiros logo seguido do de Galegos: “Eram os dois Estabelecimentos de domínio municipal; o de Galegos de tabuado de pinho, compunha-se de cinco banheiras-canoas, da mesma madeira; no dos Mosqueiros havia o dobro de canoas, também de pinho, dentro de edifício de alvenaria, com um corredor ao meio.”
Estas águas foram sumariamente analisadas por Pereira Caldas em 1854. Novamente analisadas por Lourenço (1867), dentro do quadro da primeira comissão nomeada pelo governo para os estudos preliminares de Águas Minerais do Reino, onde o engenheiro Schiappa de Azevedo esteve encarregue da descrição das três nascentes: Mosqueiros; Castanheirinhos, “também conhecida por Galegos”; “a terceira a 60 m SE da casa da Quinta do Eirôgo”; quanto a balneários, havia o de Mosqueiros e o de Castanheirinhos, mas em ambos a exploração era particular.
O catálogo da Exposição Universal de Paris de 1867, “Renseignements sur les Eaux Minérales Portugaises”, publicou a análise de Agostinho Lourenço e um resumo da memória de Schiappa de Azevedo.
Ortigão (1875: 61) pouco acrescenta. Sob o título “Águas das fontes de Lijó e de Galegos”, data a sua descoberta de 1855: “Parece que foi o médico Alheira, bem conhecido na cidade do Porto, onde exercia clínica e era professor na escola médico-cirúrgica, quem primeiro indicou o uso destas águas, há cerca de vinte anos.”
Lopes (1892) diz que estas águas são utilizadas “há cerca de sessenta anos”; na sua descrição separou a de Mosqueiro e a de Castanheiros, e sobre esta última escreveu: “brota do fundo de um poço quadrangular de: 2,56x2,65 m, tendo por base a rocha viva irregular e granítica […] Quase encostado ao poço, existe um forno, toscamente construído, contendo uma caldeira de ferro na qual, a fogo directo, são aquecidas as águas sulfúreas, que vão alimentar o modestíssimo balneário contíguo. Este é feito de madeira com uma só tina de pau […] pensa-se conduzi-las por canalização de grés, conjuntamente com as do Mosqueiro, até Barcelos, onde será edificado um grande estabelecimento hidrotermal”.
Lembre-se que Barcelos fica a cerca de 4 km.
Sobre as de Mosqueiro o mesmo autor escreveu: “São quatro as nascentes principais […] Surgem à superfície do solo entre granito de grão fino […] Não há o menor vislumbre de captação regular, os estabelecimentos hidroterápicos particulares, que ali se encontram, são rudimentares. Constam apenas de pequenas casas, com canoas ou tinas em madeira, para onde se deita a água depois de com péssimas condições ser aquecida em caldeira de cobre.”Em Julho 1894 foi dado o primeiro alvará de exploração, alguns meses depois da regulamentação da Lei de 1892 que obrigava ao pedido de concessão de exploração, passado a favor de Crysogono Alberto de Sousa Correia.
O relatório de reconhecimento a que esta lei obrigava esteve a cargo do engenheiro Correia Melo, que, depois de descrever as emergências e os primitivos balneários de Mosqueiros e Castanheirinhos, refere um terceiro balneário: “Na quinta do Eirôgo, junto à casa da quinta, foi construído um outro edifício, que apesar de modesto, quando terminado […] poderá satisfazer as condições exigidas pelo tratamento hidroterápico.” (cit. Acciaiuoli 1944, IV: 98) Sarzedas (1907: 98) faz a mesma divisão de explorações termais, e dá como data do início da sua exploração os meados do século XIX, assinalando a publicação de um folheto sobre estas águas com a data de 1854. Quanto aos balneários, o autor considera que teriam sido construídos “treze ou catorze anos” depois dessa data. Estes balneários merecem-lhe uma descrição elogiosa: os de Eirôgo “têm sido modificados e estão muito bem cuidados. As águas, que são usadas em bebida, em duches de agulheta, de chuva, vaginais e nasais, pulverizações e banhos de imersão, utilizam-se principalmente nesta última aplicação […] Para os banhos de 1ª classe dispõe de 4 banheiras de mármore de lioz, para os de 2ª de oito de azulejo, e para os de 3ª de sete de cimento.”
Quanto ao aproveitamento do estabelecimento de Mosqueiro, Sarzedas comenta que “as instalações balneares são das mais primitivas que encontrei. Numa casa abarracada e muito pouco limpa, com divisões de madeira, estão três ou quatro compartimentos, com outras tantas banheiras escavadas no próprio pavimento, e ao lado uma caldeira de metal, semelhando as que faziam parte dos antiquados alambiques de destilação, destinados a aquecer a água de que se faz uso nos banhos”.
Matos (1912), escreve sobre esta exploração: “Estas águas foram, por assim dizer, cientificamente descobertas pelo Dr. Pereira Caldas, já falecido. Que numa publicação que fez em 1854, para elas chamou a atenção dos clínicos. Há duas fontes na estância, uma em Eirôgo e outra em Castanheiros, que apesar de terem a mesma mineralização são de diferente termalidade e caudal. Quanto ao modo de aplicação, são estas águas usadas em bebida, em duche de agulheta, de chuva, vaginais e nasais, pulverizações e muito especialmente em banhos de imersão.”
Acciaiuoli (1944, IV: 100) relata que uma inspecção feita em 1923 considerou a água muito mal captada, que a sala de inalações se encontrava encerrada, estando as termas em estado de decadência. Quanto ao Banho do Mosqueiro, encontrava-se nessa data em ruínas.Em 1924 é passado o alvará de transmissão da concessão a favor de Francisco de Sousa Correia e outros, herdeiros do primeiro proprietário, e em 1939 novo alvará a favor do Dr. Aurélio Augusto de Queiroz, avô dos actuais proprietários.
Nas notas bibliográficas cedidas pelo actual proprietário, a data de 1923 é dada como a da aquisição das termas do Eirôgo pelo Dr. Queiroz, encontrando-se estas “em estado avançado de degradação, começando desde logo, a sua difícil recuperação.”
O Director Clínico que era, ao mesmo tempo, o concessionário, faleceu em 1942.
A direcção clínica das termas passou para o seu filho Dr. Mário Augusto Viana de Queiroz.
Em 1953 Acciaiuoli publicou o 2º volume de “Le Portugal Hydrominéral”, e sobre estas instalações comentou: “estas termas hidrominerais não têm acompanhado o desenvolvimento registado por outras, e hoje em dia é um estabelecimento obsoleto; o projecto para modernizar as instalações de acordo com as indicações terapeuticas está em curso”. (página 286).
Na descrição das instalações de Almeida (visita de 1970-71), o balneário encontrava-se bem equipado. Além da balneoterapia e dos tratamentos ORL, contava com uma sala de mecanoterapia, onde não faltavam diversos aparelhos de tratamento muscular, assim como as massagens e mesmo “um vibrador eléctrico para massagens”. Esta sala de mecanoterapia veio a ser o embrião da Fisoterapia: “Iniciámos na década de 80, quando ainda não havia tradição em Portugal de fisioterapia. Foi um fisiatra que veio da Alemanha, ele é daqui da zona Norte, foi ele que quando voltou para cá, trouxe o bichinho da fisioterapia no termalismo, que iniciámos aqui com óptimos resultados”. Em 1976 morreu o director clínico Mário Augusto Viana de Queiroz, sendo nomeado o seu filho Dr. Mário Fernando Viana de Queiroz, médico reumatologista, o terceiro de uma família de clínicos hidrologistas à frente destas termas. Em Dezembro 1990, teve o seu perímetro de protecção aprovado: zona imediata, 50 m de raio, a partir do centro definido pelo poço da quinta, e, a mesma área com centro nos dois furos do Castanheirinhos; zona intermédia de 65,917 hectares; zona alargada, 1283,05 hectares. “Posso acrescentar, como curiosidade, que foram as primeiras termas que tiveram um perímetro de protecção, em Dezembro de 1990, porque depois da lei de 16 de Março de 1990, tornava-se obrigatório e foram as primeiras termas do país a terem essa protecção, a imediata, a intermédia e a alargada”, informou o Dr. Viana Queiroz.
Nesse mesmo ano (1990) iniciou-se uma agressão a este aquífero. Nas imediações da captação de Castanheirinhos, foi construída uma fábrica de fiação, que numa primeira versão incluía também uma tinturaria: “A área de agressão corresponde a um campo de futebol. De início não tínhamos ninguém do nosso lado, depois conseguimos puxar algumas entidades à razão. A CCR, a Direcção Geral de Saúde e o Instituto Mineiro estiveram do nosso lado. Mas mesmo assim eles conseguiram o licenciamento do Ministério da Economia, com algumas condicionantes que no fundo até não cumpriram. Receberam o subsídio, fizeram a fábrica, empregaram, salvo erro, três turnos de 20 indivíduos, trabalhava 24 horas sobre 24, laborou 10 anos com alta tecnologia de fiação, a tinturaria nós conseguimos travar e eles não a fizeram", lembrou o director clínico.
Continuou, dizendo "que todo o processo foi para tribunal, em 1994 o juiz deu razão à fábrica, concluiu que nós não tínhamos legitimidade para por esse processo. Foi muito complicado tudo isto. A fábrica fechou em Dezembro passado (2004)”.
Não deixa de ser irónico fazer-se uma agressão a um riqueza natural, para ao fim de 10 anos provocar um problema social de desemprego, num local em que essa mesma riqueza hidromineral poderia ser geradora de trabalho, através de um programa bem estruturado de termalismo, como foi a proposta apresentada no âmbito do projecto europeu Thermaios, onde as termas do Eirôgo seriam “uma pequena quinta minhota, com um espaço rural, «quinta biológica», um Hotel, um Balneário e um Parque Biológico. Todas estas valências fariam deste espaço Termal, um espaço único, com funcionamento durante todo o ano”.
O futuro destas termas passa pelo entusiasmo e vontade nos seus proprietários em transformar o Eirôgo numa Quinta Termal, mas isso só será possível com apoios e interesses exteriores, sobretudo locais e regionais: “Uma água termal é recurso natural, pertence ao país, não é nosso, nós só somos os concessionários. É também um recurso turístico, por isso deve ser apoiada pela autarquia. Nós temos aberto todos os anos, porque fechar seria a morte, mas torna-se difícil. Temos várias ofertas de venda, mas até agora temos resistido”, rematou o proprietário.
Indicações:
Reumatismos, catarros das mucosas, dispepsias e dermatoses. Curas de diurese. Doenças da nutrição. Doenças da pele. Reumatismos musculares e articulares, sequelas de fracturas, hemiplegias, nevrites, asma e demais doenças alérgicas, hipertensão essencial, doenças do aparelho digestivo, doenças do aparelho respiratório, doenças de senhora, etc.
Nas palavras do director clínico, “isto é uma água sulfúrea sódica bicarbonatada, como tal são indicadas para os reumáticos, vias respiratórias e também algumas dermatoses.”
Época termal:
Julho a Setembro

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