A família “Baraça” é a prova viva da passagem de saberes e identidades na arte de trabalhar o barro. A tradição foi encetada por Ana “Baraça” no início do século passado e continuada, primeiro, pelo filho Fernando “Baraça” e, agora, pelos netos Carlos, Vítor e Moisés “Baraça”.
Com uma identidade muito própria, o figurado dos “Baraças” pauta-se pelo simbolismo, pela magia e pela expressão artística das peças, características às quais se aliam as cores coloridas e atractivas que atestam a vivacidade deste tipo de artesanato. O espólio exposto é vasto e diversificado, notando-se, contudo, uma predominância de peças intimamente influenciadas pelo estilo de Ana “Baraça” – caso das juntas de bois, dos presépios e de outras que retratam a ruralidade e o quotidiano. De Fernando “Baraça” destaque para os coretos e para as bandas de música, os trabalhos mais identificativos da sua arte.
Sem renegar as origens e a tradição familiar, Carlos, Vitor e Moisés “Baraça” têm-se dedicado também a criar e a inovar nas técnicas e nas formas. Vitor “Baraça” tem enveredado, por exemplo, pelas imagens de Cristos e pelas profissões. Já Moisés “Baraça”, o filho mais novo, alia o carácter tradicional, ao estilo da sua avó, à criatividade e à inovação, trabalhos que já o levaram a participar em feiras e exposições de artesanato a nível nacional e internacional.
A exposição “A Arte dos Baraças” pretende, assim, prestar tributo a uma das famílias de barristas mais tradicionais do concelho e, simultaneamente, mostrar a riqueza das peças produzidas pelos quatro artesãos descendentes da mítica “Ana Baraça”. Mais que uma família de barristas, os “Baraças” “são uma marca de expressão da expressão artística do figurado de Barcelos e constituem-se como referencial da arte popular em Portugal”.
Linhagem de artistas:
O epíteto “Baraça” surge do casamento entre Ana Lopes Gonçalves (Ana “Baraça”) e Manuel Pereira que, em solteiro, tocava viola nas romarias das aldeias, a qual decorava com baraças (tiras em tecido) que ficavam penduradas e chamavam a atenção das pessoas. Nas calças, Manuel Pereira também usava uma baraça em vez de um cinto. Ora, a alcunha “pegou” e, ligado ao nome da sua esposa Ana, tornou-se uma referência no panorama das artes e dos ofícios portugueses.
Mas a tradição barrista desta família é bem mais antiga. Filha de Manuel Valada e Luísa Lopes, memoráveis artesãos do concelho, Ana “Baraça” começou a acariciar o barro muito cedo, contava apenas 7 anos. Aos 15, já colocava as suas próprias criações no forno do pai. Foi com os seus trabalhos que o nome “Baraça” se catapultou para os arautos da arte popular nacional. A artesã de Galegos Santa Maria deu ao típico figurado de Barcelos uma projecção só comparável à acção de Rosa “Ramalho” e Rosa “Cota”.
O seu saber foi transmitido ao filho Fernando Gonçalves Pereira “Baraça”, que também se iniciou na arte quando ainda menino. A paixão pelo barro, associada às precárias condições económicas da família, levaram-no a dedicar-se totalmente à feitura de artesanato. Os trabalhos que elabora têm uma nítida influência na arte da mãe, mormente as peças ligadas ao mundo rural, à agricultura e à pecuária: os carros de bois, os camponeses, os arados, as juntam de bois, entre outras. Já o seu cunho pessoal fica expresso sobretudo nos coretos e nas bandas de música.
Os três filhos de Fernando – Carlos, Vitor e Moisés “Baraça” – também comungam da mesma paixão e estão, assim, a dar continuidade à obra iniciada pela avó Ana “Baraça”. Foi com ela, aliás, que deram os primeiros passos no ofício. Têm experimentado novas técnicas, feitios e temáticas. Mas continuam fiéis ao estilo da “mestre”.
Autor: Filipa Oliveira (Barcelos Popular – 20/11/2006) a propósito da exposição de trabalhos na Sala Gótica dos Paços do Concelho de Barcelos.
1 comentário:
a minha mais sincera admiração pelo clã baraça mas tb pelo belissimo comentário. crescento: eu tb digo NAO ao acordo ortográfico, nunca vi um país que tenha vendido a sua lingua! e nunca o adoptarei! mesmo não sendo portuguesa, tenho mais amor à lingua lusa que os muitos "anormais" que tal proeza fizeram! e o pior é que: nós deixamos! saudações cordiais
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