Este é o título da reportagem que a página ComUM - projecto académico, de cariz jornalístico, de uma parte dos alunos de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho possuem em formato online:
O ComUM acompanhou o regresso da equipa do Santa Maria ao trabalho. De sorriso rasgado, ainda a recuperar de uma noite mal dormida, por culpa dos festejos e das muitas mensagens recebidas, o plantel da equipa barcelense enfrentou a chuva e pisou de novo o relvado. Porque, ao contrário dos leitões, o trabalho tem hora marcada Um momento para explicar a história dos leitões, por favor. Depois da vitória sobre o Nacional, o presidente da Assembleia Geral do Santa Maria prometeu que pagaria um jantar, reservando, pelo que se diz, quatro leitões para serem degustados pelo plantel. Os jogadores regressaram ao trabalho, fala-se da aposta nos corredores, mas ainda não há data definitiva. "Merecemos quatro ou cinco", diz Telmo, o autor do golo decisivo que derrubou o Nacional.
Por força desta vitória, o Santa Maria vive um dos melhores momentos do seu historial. A mensagem escrita no topo de uma das bancadas do Estádio da Devesa não deixa dúvidas: "Barcelos está no máximo". O Santa Maria, neste momento, também. "Aquilo foi lá pintado no ano passado", diz Francisco Portela, o presidente, que lidera, desde 2011, o segundo maior clube do concelho. E que já festejou, na época passada, o ingresso no Campeonato Nacional de Seniores.
Afastar o Nacional da Taça de Portugal é, contudo, um feito bem mais mediático. Até porque, olhando ao quadro de resultados da 3ª eliminatória da prova, o Santa Maria foi a única equipa de escalões secundários a conseguir eliminar um clube do principal campeonato – que, além do mais, se assume candidato declarado a ocupar uma vaga nos lugares de acesso à Europa. "É um dos maiores feitos da história do Santa Maria", assume Francisco Portela.
O regresso à rotina: duro mas feliz.
Por tudo o que já se disse, não é difícil perceber que a noite de festa deixou marcas. Daí que, enquanto alguns jogadores do plantel júnior vão arrastando uma baliza para o centro do terreno, para poder dar início ao primeiro treino depois da prosa haja, na bancada, quem se queixe dos excessos proporcionados pelas comemorações do dia anterior. A conclusão é simples: custa retomar a normalidade.
"Hoje treinava-se bem era aqui na bancada", ouve-se. A chuva não dá tréguas, o vento também não e o relvado, encharcado, desencoraja grandes esforços. Mas, como a consciência lembra, tem mesmo de ser. Aplica-se uma frase latina que diz que o trabalho origina glória – labores pariunt honores – e isso ajuda a enfrentar o temporal, a voltar a sentir a relva e a deixar as entrevistas para segundo plano.
Afinal, esta é uma semana em que o Santa Maria se torna um clube mediático e a freguesia de Galegos salta para o mapa como ponto de destino dos jornalistas. Por isso, antes de encarar a chuva para treinar, há ainda um pedido a fazer, já de fugida. "Olhe, não dá para pôr aí no jornal um anúncio a umas casas? É que eu tenho uns apartamentos para vender". Pode sempre tentar-se. Mas não, não parece haver grandes hipóteses.
Telmo, por outro lado, está há alguns anos à procura de emprego – e, aos 28 anos, pode já ser tarde para conseguir uma carreira futebolística noutro patamar. Ainda assim, além do futebol amador, há algo que preenche o dia-a-dia do marcador do golo da vitória do Santa Maria. "O meu trabalho é cuidar da minha filha, que tem dois anos. É isso que faço de manhã à noite", revela Telmo, pai orgulhoso. "E já me dá bem que fazer", diz.
Mas, insiste-se, é mesmo hora de voltar ao trabalho no Estádio da Devesa. O mister Pedro Rocha está pronto e vai chamando os jogadores, para que, aos poucos, a normalidade dos treinos seja reposta. Há que terminar a festa e concentrar esforços para outro objectivo: o pensamento passa a estar no próximo jogo, frente ao Vilaverdense, para o Campeonato Nacional de Seniores. Ou, pelo menos, a ideia é essa.
O futuro de um clube que gosta de dar nas vistas.
Não se pode dizer que sucesso seja propriamente uma palavra distante da realidade do Santa Maria. O clube barcelense, de onde saíram Nélson Oliveira ou Hugo Vieira, por exemplo, tem conseguido nas últimas épocas acrescentar feitos relevantes ao seu historial. Na época passada, a equipa terminou a série A da III Divisão em segundo lugar e ganhou o direito a participar no Campeonato Nacional de Seniores desta temporada.
Por isso mesmo, Pedro Rocha, o treinador, é também uma das figuras desta equipa. Num plantel com uma média de idades de 23 anos, também o treinador é jovem – 31 anos – e quase se torna difícil distingui-lo no meio dos jogadores. Apesar de jovem, Pedro Rocha tem o discurso está definido e as ideias orientadas. Mas também não quer que se fale muito dele: "O mérito principal é sempre dos jogadores".
Por pensar da mesma forma, que o mérito das conquistas pertence sobretudo aos jogadores, Francisco Portela compromete-se a dividir com o plantel o dinheiro ganho."Recebemos prémio pela passagem à fase seguinte da Taça e, neste caso em concreto, fazemos questão de o partilhar com os jogadores", diz Francisco Portela. Telmo, por exemplo, nem sabia do bónus: pensava que o prémio seria apenas jantar leitão. Mas tem a palavra do presidente.
É, aliás, uma frase de Francisco Portela que dá o tiro de partida para o futuro: "Isto é Taça e na Taça tudo pode acontecer". Agora, que venha o próximo sorteio. Com um adversário de renome, já agora. Mas, seja ele qual for, há uma certeza deixada pelo plantel: o Santa Maria tudo fará para prolongar o estado de graça.
Reportagem: Ricardo Costa | Edição e Produção: André Malheiro e João Pereira
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